"Absinto" é uma bebida destilada feito da erva Artemisia absinthium. Anis, funcho e por vezes outras ervas compõem a bebida. Ela foi criada e utilizada primeiramente como remédio pelo Dr. Pierre Ordinaire, médico francês que vivia em Couvet na Suíça por volta de 1792.É também conhecido popularmente de fada verde em virtude de um suposto efeito alucinógeno. Absinto, o blog, é um espaço para delírios pessoais e coletivos. Absinte-se e boa leitura.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dia das crianças, dia de brincar



Embora meus pais nunca tivessem ouvido falar de pedagogia Waldorf, orientação na qual hoje educo o meu filho, posso dizer que tive um primeiro setênio belo. Como não havia muitos recursos para brinquedos caros, o jeito era lançar mão do que estava por perto e de exercitar a imaginação.

Mesmo crescendo em um bairro relativamente grande do Rio de Janeiro, costumava brincar no chão da cozinha da nossa casa com boizinhos de chuchu, bonecas de pano e com várias sobras de tecido que ganhavam mil formas nas histórias que inventava.

Em minha infância fui limitada no colecionar de álbuns de figurinhas (que eram bem caras para o orçamento da minha família), e de sonhos de consumo como o Atari, o patins e muitos outros que se quer recordo. Meus pais ou não tiveram recursos ou simplesmente não acreditavam que ali estaria algum tipo de felicidade que efetivamente fosse essencial para minha formação.

Aprendi a conviver com essa negação. E, acredito, esse limite do que se pode ter e do que realmente é essencial, foi sendo forjado dentro de mim pelos exemplos que tive. Hoje, das lembranças que guardo de minha infância, não povoam brinquedos que tive ou os que não tive, mas as aventuras e descobertas que vivenciei neste período, como a primeira vez que tomei banho de cachoeira nas férias no interior de Minas, os banhos de chuvas e a cumplicidade dos primos e dos amigos.



Um dos brinquedos mais queridos de minha infância foi um buraco. Um enorme buraco aberto por seis mãos no quintal de minha avó. A finalidade era apenas abrir um túnel onde pudéssemos encontrar mãos e pés. A conquista deste objetivo foi comemorada em alto estilo com suco de uva e pão de queijo.



Recordo-me que em uma noite de forte chuva faltou energia na nossa casa e não tive que disputar meus pais com as novelas ou telejornais.  Por cerca de uma hora e meia, brincamos de sombras nas paredes à luz de velas. Cheguei a pedir que faltasse luz todos os dias para que aquele momento se perpetuasse.

Hoje, como mãe, dou ao meu filho mais do que tive em minha infância, mas tento não cometer exageros. Isso acaba me gerando alguns conflitos internos, é claro, pois sempre achamos que poderíamos dar mais. Mais afeto, mais brinquedos, mais tempo juntos.


Neste Dia das Crianças, meu filho não recebeu nenhum presente material. Já havíamos dado há alguns meses um brinquedo que ele queria muito. Ele sabia que este seria o seu presente e não teria outro nesta data. Passamos o dia juntos, passeando e brincando. E percebi que não fez a menor falta para ele receber ou não um novo brinquedo neste dia.

Preocupada com o legado que estou deixando para meu filho, neste Dia das Crianças, perguntei a ele: “Quando você pensa na mamãe, o que te vem à cabeça?” Ele me respondeu: “Carinho”. Bom, eu não poderia ter recebido presente melhor.



domingo, 2 de outubro de 2011

Bienal, até 2013


Bienal é um evento que se repete de dois em dois. Isto é o que nós organizadores esperamos.  E pelo sucesso da primeira Bienal de Arquitetura da Zona da Mata e Vertentes, acredito que este é um evento que veio par ficar.


Organizar um acontecimento deste porte, em uma cidade de tamanho médio, com poucos patrocinadores e contando com muita mão de obra voluntária (o que significa muitas vezes não poder contar com ninguém) é, sim, um desafio. Mas o desafio seria o mesmo se tivéssemos muito mais almas abnegadas do que as que pudemos contar e muito mais saldo na conta bancária. A questão maior é ter sido a primeira. Tem aquele gostinho de desbravamento que ninguém nos tira. E tem também aquele bater de cabeças de não saber bem o resultado que vamos conseguir alcançar.


Foram dez dias delexposições, mostras e palestras ocupando o maior espaço de cultura da nossa cidade, o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. No final, o saldo foi positivo. Posso afirmar, atrevidamente, que todos os que foram gostaram muito do que viram.


Esta primeira edição teve como tema central uma homenagem a Arthur Arcuri e Luzimar Telles, arquitetos modernistas de Juiz de Fora e de Cataguases, respectivamente. E contou com obras de um contemporâneo de peso - uma sala com desenhos e croquis de Oscar Niemeyer, feitos pelo grande arquiteto brasileiro para uma apresentação no George Pompidou no ano do Brasil na França, em 2005.


Foram 45 projetos profissionais inscritos para concorrer na primeira Bienal regional que se tem história no Brasil. A premiação garantiu aos cinco agraciados a participação na grande Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que vai acontecer em novembro próximo.


A regra para os trabalhos acadêmicos era de cinco projetos selecionados em casa uma das três instituições da região aptas a participar. O primeiro lugar ficou com a solução arquitetônica encontrada para um abrigo de moradores de rua.  Contribuição social da arquitetura para um mundo melhor? Acho que esse deveria ser o viés dessa e de todas as demais profissões. E, como disse o arquiteto Sylvio Podestá,  na palestra de abertura do evento: “o primeiro cliente do arquiteto é a cidade”.


Para fechar a programação, contamos com o trabalho de dois artistas plásticos da cidade: Ramon Brandão, com sua Cidade de Papel, perfeição em cada detalhe nas maquetes de casarios e prédios históricos de Juiz de Fora, e de Filipe Matias, que preparou uma instalação interativa, onde o eixo do cenário foi mudado e os visitantes podiam ser fotografados no local.


Girando as fotos, quem fica fora de “lugar” é você. Além de divertido, uma boa reflexão sobre o que é certo e o que é errado? Onde estamos e onde não poderíamos de fato estar? Existem limites para a ousadia? Entre o grupo responsável pela Bienal, não houve. Pensamos e acreditamos num sonho e sua concretização nos aponta para outras edições ainda mais promissoras.


Vida longa à Bienal da Zona da Mata e Vertentes. Deixo vocês com o vídeo do evento e, é claro, estou de volta à vida de blogueira, visitando os amigos e pondo leitura em dia. 


A todos, um brinde de Absinto!