Foto - Malu Machado |
Ainda bem que estava atenta aos sinais.
Quando percebi que não havia espaço para mais ninguém no jardim.
Quantas vezes nos sentimos forasteiros na terra onde vivemos?
Foi assim comigo quando me mudei da minha cidade natal. De uma cidade grande para uma pequena. Não tão pequena, mas formada por pequenas redes impenetráveis de amigos de infância, intermináveis almoços nas casas de avós com todos os primos e primas. Bem diferente da democracia das praias de Ipanema onde era só chegar e se enturmar.
Foram anos de convivência informal, cultivando um sentimento de não pertencimento.
E então, a cidade começou a ser invadida. Uma onda de migrantes vinda de cidades gigantescas, pessoas em busca de uma vida menos atribulada, mas que garanta um certo acesso à cultura, lazer e modernidades.
E, de repente, éramos mais de dez, vinte, cem, os forasteiros, vindos de diversas capitais brasileiras e, diante do estranhamento desta mineirice acabrunhada, fomos formando o nosso canteirinho, sem rótulos, sem cercas, com espaço para todos os sonhos e vontades.
E hoje posso dizer que, da casa onde ergui minha vida, cada vaso de planta, cada amigo que chega, é com se abrisse as cortinas e estivesse exatamente aonde gostaria de estar. Na verdade, pouco importa a terra. Aprendi a viajar no tempo e a ser feliz com minha eterna falta de contexto.
Não sou o tipo de peça se que encaixa em um só quebra-cabeça. Antes, necessito germinar em diferentes quintais, necessito de enxertos contínuos aprimorando a minha espécie. Deixando em outros um pouco do meu sal, levo comigo a semente de muitos para um novo amanhecer, seja ele aonde for.